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Greve na CONLOG revela a verdadeira face do capitalismo "moderno"

Paralisada desde o dia 17, terça-feira, a CONLOG, Empresa contratada pela gigante AMBEV para distribuir seus produtos (cervejas, água, refrigerantes e outros) na grande Florianópolis, é a responsável por um fato quase inédito: uma greve que dura há cinco dias.

A empresa CONLOG descumpre sistematicamente a Convenção Coletiva de Trabalho, desrespeita as leis trabalhistas vigentes, impõem péssimas condições de trabalho, não faz a devida manutenção de sua frota de veículos, colocando motoristas e ajudantes em constante perigo, sem contar com o risco inerente à terceiros que possam a vir ser envolvidos em acidentes.

Diante deste quadro de desrespeito e descaso, muitos dos trabalhadores que tentaram cobrar a aplicação da legislação vigente, ou mesmo reclamar das condições perigosas da frota, foram demitidos. Cansados e insatisfeitos procuraram seu Sindicato, o SINTRACARGAS, que buscou de todas as maneiras possíveis de negociação, chegar a um termo para o cumprimento da CCT e pela aplicação das regras trabalhistas em vigência. Tudo foi em vão.

O sindicato já havia ajuizado AÇÃO DE CUMPRIMENTO, ainda no mês de Fevereiro, sem que a Justiça do Trabalho tenha, sequer, intimado a empresa dessa ação. Aos trabalhadores, que só querem cumprir com sua rotina e serem remunerados com o mínimo de dignidade prevista na sua Convenção Coletiva, não restou outra alternativa a não ser cruzar os braços, o último recurso diante da intransigência dos patrões e seus representantes.

Rotina e metas massacrantes

Os veículos que a CONLOG/AMBEV colocam diariamente nas ruas e estradas da Grande Florianópolis, saem de seus pátios com uma média de 9000 kg, que devem ser entregues pelo Motorista e seu Ajudante durante uma jornada que fica em torno de 10 horas diárias, incluindo os devidos intervalos, que não são cumpridos em sua integralidade. A empresa tem dois centros de distribuição. Na ilha os trabalhos iniciam às 06:30 e acabam às 16:40 e no continente é das 07:00 até às 17:20.

Isso é o que está firmado “oficialmente”, mas não raramente as jornadas se estendem para além das 20/21 h. Além de não pagar a totalidade das horas trabalhadas, o estabelecimento da jornada de trabalho num dia, obriga os trabalhadores a voltarem para a jornada do dia seguinte sem terem cumprido o intervalo mínimo de 11 h, preconizado pela lei vigente.

A rotina começa com uma reunião matinal, que de acordo com os manuais internos da empresa deve durar sete minutos, mas quase sempre chega a quinze minutos, na qual os "supervisores" cumprem com o papel de capatazes e “deitam o chicote das metas absurdas” no lombo dos trabalhadores, lembrando a eles, por exemplo, que qualquer produto danificado durante o trajeto e entrega será descontado do pagamento do salário, com acréscimo de 200% sobre seu valor real. É com essa draconiana ameaça a “forma” que a empresa age “educativamente” na tentativa de “qualificar” o trabalho executado por seus empregados.

Após o açoite, Motorista e Ajudante tem que chegar ao veículo depois de terem apanhado o "trecking" (um dispositivo de monitoramento para proteger a carga e o veículo, é claro!) e conferido a carga. Esse ritual "organizacional" nunca dever ultrapassar trinta minutos, caso contrário é registrado como descumprimento do "regulamento" e gera algum tipo de "punição".

Entre a saída e o retorno, o calvário das entregas

Até o asfalto onde transitam os veículos da empresa sabe das crescentes dificuldades de mobilidade na região metropolitana de Florianópolis. Transitar por nossas cidades está cada vez mais difícil e estressante. Os trabalhadores a serviço da CONLOG/AMBEV “já saem na pilha da reunião matinal” e caem na estrada para entregarem suas toneladas de carga fracionadas em dezenas caixas, de até 35 kg cada. Tudo em conformidade com o que a administração e seus chefetes chamam de "OK". Ou seja, dentro da jornada “oficial” toda a mercadoria tem de ser entregue e a empresa paga, "generosamente", R$ 0,10 para o Motorista e R$ 0,07 para o Ajudante, por cada caixa entregue. Perceba-se o central da “meta OK”: Para ganhar o “prêmio”, toda a mercadoria deve ser entregue DENTRO do horário da jornada “oficialmente” definida.

Para que a meta seja cumprida e garanta o "excelente bônus", os trabalhadores, em sua grande maioria, evitam parar no horário do almoço, apesar dessa pausa ser registrada automaticamente em seus "pontos". O não cumprimento da “meta OK” dentro da jornada traz sanções e reduz o "excelente bônus". Os "Çabios" da Administração parecem ignorar gargalos de engarrafamento, acidentes, manifestações e que uma série de outros fatores que interferem na rota e na jornada “idealizadas” com tanta dedicação.

Quando as jornadas têm de ser estendidas para cumprir toda a rota e a meta dos "Çabios da Adminstração", o pagamento de horas-extras passa por um misterioso cálculo, no qual nunca são pagas na totalidade, uma vez que 50% é convertida em um Banco de Horas, do qual apenas o "Çabios" e os capatazes tem controle, que sempre aponta para “menos” no pagamento ao trabalhador, que, as vezes, até fica “devendo” par a empresa.

Na sexta, 20/05, houve uma Audiência de Conciliação no Tribunal Regional do Trabalho. Mais uma vez os representantes da empresa se mostraram inflexíveis, inclusive se negando acatar a proposta do Desembargador Dr. Amarildo Lima, a qual foi aceita pelos trabalhadores.

Diante disso o Movimento segue.

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